Capítulo 03
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Capítulo 3: Chegando na Cidade
Enquanto assava carne na floresta, fui atacado por uma criatura grande, negra e parecida com um lobo. Tomado pelo medo, continuei pedalando minha bicicleta de montanha o mais rápido que pude para sair da floresta e, finalmente, cheguei à sua borda.
Acabei dormindo de tão aliviado que estava pela tensão ter passado.
… Acordei.
Arrependi-me um pouco de ter caído no sono, mas, felizmente, o sol ainda estava alto. Será que dormi por cerca de três horas?
Preciso me mover daqui, virar à direita e seguir rumo à estrada… Mas como será que este mundo trata pessoas de outro mundo?
Será que serei capturado de repente e transformado em escravo? É uma possibilidade… mas não há muito o que eu possa fazer a respeito agora.
Enquanto pensava nisso, decidi abrir a tela do Shangri-La, pois quero conferir o que ainda me restava, enquanto mastigava um pedaço de pão.
— Setecentos e sessenta reais… Já gastei metade disso?
Que droga. Já usei cerca de metade do dinheiro do meu saldo no Shangri-La. Bem, preciso arranjar um jeito de ganhar mais dinheiro… Mesmo dizendo isso, não consigo deixar de gastar dinheiro.
Estou cansado, então quero comer algo doce. Procurei chocolate no Shangri-La — eles vendem chocolate quebrado por R$20 o quilo.
Guifre: “chocolate quebrado” se refere a um produto de chocolate com defeito estético, mas ainda comestível, como uma barra estilhaçada. É vendido por um preço menor do que os intactos.
Talvez seja uma boa ideia vender este chocolate ou outros doces, mas pode ser problemático comercializar algo que não existe neste mundo…
Enquanto pensava, mordiscava o chocolate. O sabor doce me animou. O açúcar é realmente o melhor aliado quando estamos cansados.
Hum… Vamos tentar algo mais clássico, como pimenta. Acima de tudo, parece ser a opção mais simples. Talvez uma faca ou lâmina fosse útil, mas sinto que o valor de conversão da pimenta será maior.
No Shangri-La, o refil de 100g custa R$4. Se isso se transformar em ouro ou prata aqui, pode render bastante dinheiro.
Contudo, ainda sinto um desconforto com as embalagens de nylon e os frascos de vidro. Um mundo sem vidro pode levantar suspeitas.
De onde eu tirei isso? O que vão pensar? Talvez eu acabe sendo interrogado ou algo pior…
Procuro um recipiente em Shangri-La.
— Tem sacos de couro com cordão? Ah, tem sim.
Cada um custa R$30. Muito mais caro do que a pimenta, mas vale a pena. Comprei um saco de couro e coloquei o refil de pimenta dentro.
Prendi o saquinho no cinto da cintura… uau! Parece equipamento de RPG! Já vi algo assim antes, em jogos.
Se isso não funcionar, eu vou à cidade dar uma volta no mercado para decidir o que vender. Antes de começar qualquer negócio, eu preciso saber como minha existência será percebida neste mundo.
Deixei a escada dobrável de lado, então a guardei na Item Box. Depois de montar na mountain bike novamente, comecei a pedalar na direção das três horas, com base no local de onde vim até agora.
— Queria uma bicicleta de montanha com motor elétrico, mas é cara.
Procurei no Shangri-La, e custa cerca de R$1000. Claro, não dá para usá-la em público…
Minha fome aumentava, então comi mais um pouco de chocolate.
Após cerca de uma hora pedalando, avistei algo parecido com uma estrada na borda da floresta.
— A partir daqui, andar de bicicleta será estranho. Melhor caminhar…
Assim que desci da bicicleta e a guardei na Item Box, cheguei à estrada. Claro, não havia asfalto nem cascalho. Era uma estrada de terra livre.
Se chover, vai virar lama… Mas, mesmo assim, é mais fácil andar aqui do que na floresta. Graças à Item Box, não tenho nenhuma bagagem para carregar.
Depois de caminhar por um tempo, percebi que havia um tráfego razoável. Carruagens cheias de bagagem passavam constantemente.
Várias carruagens passaram, algumas com carga, outras sem, cada uma com um design diferente — claramente eram feitas à mão.
Enquanto eu andava pelo canto da estrada para não atrapalhar, de repente alguém me chamou:
— Você está a pé?
— O que tem isso?
Virei para a voz e vi uma carruagem parada ao lado. O cavalo era grande, de pelo preto, com uma aparência bem robusta.
— Está indo para Daria?
Um jovem vestindo roupas cáqui me olhava fixamente. Mas, mais importante, eu entendi o que ele disse.
— Você está falando comigo?
— Quem mais? Você está indo para Daria, não está?
— Ah, sim.
Parece que a cidade que vi da floresta se chama Daria. E, novamente, as palavras fazem sentido. Tive sorte.
— Quer uma carona?
— Obrigado, mas não tenho dinheiro.
— Daria está logo ali. É de graça.
Sério? É minha chance. Se eu pudesse usar a bicicleta, já estaria lá em minutos. Olhei para o rosto do homem e não senti segundas intenções, então decidi aceitar a carona com sinceridade.
— Meu nome é Hoyo. Obrigado. Sou comerciante.
— Sou Kenchi.
— Haha, que nome estranho.
Ele parecia ser uma boa pessoa, então aproveitei para fazer várias perguntas. Ele também comentou que meu cabelo preto não era tão incomum.
A carruagem balançava enquanto conversávamos. No peito do homem havia algo como um acessório metálico em forma de bastão pendurado em um cordão. Na ponta do bastão, havia uma pedra.
— Então, só havia cabelos pretos onde você estava?
Hoyo apontou para a própria cabeça, destacando seus cabelos naturais de cor castanho-avermelhada.
— Ah, entendi. Que vergonha, nunca saí da vila até ficar tão velho assim.
— Bem, se você não é um comerciante, isso é bem comum. Você saiu da vila para fazer negócios?
— Ah, foi isso mesmo.
Decidi seguir por essa linha. Trabalhei nos campos da minha casa e, por ser do interior, tenho bastante conhecimento sobre agricultura.
— Nesse caso, já sabe como funciona… Você tem uma Item Box?
— Você conhece a Item Box?
Hoyo pareceu surpreso. Ele já havia ouvido falar de “Item Box”? No meu status, o termo “Item Box” aparece escrito claramente, mas na tela, está em japonês.
— Não é algo que muita gente tem. Na verdade, nunca conheci ninguém que tivesse uma antes.
— Sério?
— É. Você tem uma Item Box, mas nunca fez negócios antes?
— Ah, eu guardava legumes colhidos no campo. Se você colocar dentro, eles não brotam nem apodrecem.
Claro, isso era uma mentira.
— É o que dizem. Bem, isso é muito conveniente. Dá para ganhar dinheiro transportando coisas valiosas.
— Pois é… Vou experimentar várias coisas.
Como ele parecia ser um comerciante experiente, aproveitei para perguntar muitas coisas sobre como fazer negócios. Descobri que era necessário se registrar na Guilda dos Comerciantes para operar legalmente. A taxa de registro era de uma moeda de prata, mas não ficou claro quanto essa moeda realmente valia.
No caminho, cruzamos uma ponte de pedra sobre um pequeno rio. Do alto da ponte, dava para ver crianças brincando e pescando na margem do rio. Um lugar onde as crianças parecem felizes é sempre um bom sinal.
… Chegamos à cidade enquanto conversávamos. Passamos por paredes grossas de pedra e, ao entrar, a cidade se abriu à nossa frente.
Não vi prédios muito altos, apenas construções de até três andares, todas de pedra. A rua era movimentada, cheia de pessoas, dando a impressão de ser uma cidade animada.
Na entrada, havia sentinelas, mas ninguém me inspecionou. Foi uma passagem tranquila. Outros pareciam entrar e sair livremente, e a carruagem também passou sem problemas.
— Não cobram impostos ou fazem inspeções para entrar na cidade?
— Não aqui. Já ouvi falar de cidades assim, mas não nesta região. Às vezes, fecham os portões quando há bandidos por perto, mas isso é raro.
Depois de cerca de cinco minutos, chegamos ao destino dele. Quando começou a descarregar a mercadoria, decidi ajudar.
— Obrigado pela carona.
Depois de terminar o trabalho, perguntei onde ficavam a Guilda dos Comerciantes e alguma pousada. Nada melhor do que perguntar a um local.
— Você é um bom cara, moço. Me ajudou muito, então vou te dar isso.
Entreguei a ele uma bolsinha de couro com pimenta dentro.
— O que é isso?
O homem abriu a bolsa e foi surpreendido pelo cheiro.
— Isso é pimenta!
— Sim, é.
— Ei, tá de brincadeira? Você não consegue algo tão caro assim de graça! Eu vou pagar por isso.
— Não precisa…
— Sério mesmo? Você sabe o valor disso?
Depois de uma pausa, levantei o dedo indicador.
— Nada é mais valioso que ajudar um amigo.
— Exatamente. Você tem jeito para negócios, hein. Comércio é basicamente troca. Eu não faço trocas sem algo em troca. Isso é o básico.
O homem tirou uma bolsa de ouro do bolso e me deu duas moedas de prata.
— Isso deve cobrir. Além disso, essa bolsa de couro também é boa. O preço dela é seis moedas de cobre.
Ele me entregou também algumas moedas de bronze. Eram pequenas, mas pesavam.
— Não dá para fazer negócios se você não for esperto. Nem sempre é fácil lidar com pessoas aqui.
Rindo, ele fez um gesto em direção à ponte de pedra.
— Hahaha, mas você tem futuro.
Eu consegui algum dinheiro, mas ainda não fazia ideia do seu valor real. Como parecia ser algo caro, concluí que poderia ser uma boa quantia.
— Talvez seja uma pergunta estranha, mas quantas moedas de prata valem uma moeda de ouro?
— Quatro moedas de prata equivalem a uma moeda de ouro. Porém, isso varia de acordo com o lugar. Dependendo do país, as taxas podem ser diferentes.
— Entendi, obrigado.
— Hahaha, dá pra ver que você é novo por aqui. É normal ficar meio perdido.
Ele me olhou com atenção antes de continuar:
— Mas me diga uma coisa… Você não vai tentar negociar com pimenta, né?
— Não, acho que não…
— As especiarias daqui são controladas pela Bakopa. Eles vigiam tudo de perto, sabe?
— Quer dizer que eles controlam os preços e restringem a distribuição?
— Exatamente. Os lucrativos sempre atraem ganância. E, nesse caso, é melhor tomar cuidado.
— Vou lembrar disso.
— Então, boa sorte. Até mais.
Nos despedimos, e eu decidi ir até a hospedaria. Precisava de uma base de operações antes de pensar em qualquer outra coisa. A ideia de ganhar dinheiro fácil com pimenta e especiarias não ia funcionar, pelo menos não aqui. Precisaria encontrar outra alternativa no mercado.
Caminhei pelas ruas movimentadas, observando os detalhes da cidade. Havia bastante gente circulando, e o lugar era cheio de vida.
Notei que alguns edifícios mais refinados tinham paineis transparentes nas janelas. Vidro existia ali, mas provavelmente era caro. Talvez nem fosse vidro, mas algum material fantástico, como tectito ou algo similar.
Guifre: “tectito” é uma designação da petrologia para pequenas pedras de vidro com dimensão de até alguns centímetros que se crê terem sido formadas no impacto de asteroides com a terra.
Depois de cerca de cinco minutos, encontrei um prédio que parecia ser uma hospedaria. Era uma construção de pedra com dois andares. As paredes tinham um revestimento branco, mas a pintura já estava bem desgastada. Parecia simples, mas funcional.
Na porta de madeira, havia uma placa com desenhos de carnes e pratos.
— Acho que é aqui mesmo…
Empurrei a porta, que se fechou automaticamente atrás de mim com um mecanismo de martelo e polia. Apesar da fachada de pedra, o interior era simples, com chão de madeira, um pouco escuro, e oito mesas de madeira com cadeiras ao redor. O lugar parecia mais um restaurante do que uma hospedaria.
Ao fundo, dava para ver um balcão. Não havia nenhum cliente no momento — provavelmente porque já passava do horário de almoço. Pelo meu cálculo, devia ser por volta das duas da tarde.
— Bem-vindo. Vai jantar ou quer ficar?
— Ficar.
Quem me atendeu foi uma garota com cabelos negros amarrados em um rabo de cavalo, usando algo que parecia um avental. Ela aparentava ter cerca de 18 anos e era bastante simpática.
— Uma noite com refeição custa uma pequena moeda de prata quadrada, ou só três moedas de bronze se não quiser comida.
Considerei a oferta. Como poderia comprar comida pelo Shangri-La, seria melhor economizar a moeda local.
— Vou ficar sem refeição, por favor. Pago adiantado.
Entreguei as três moedas de bronze que ganhei do comerciante mais cedo.
— Ficar sozinho, hein? Certo.
— Sim!
Do fundo, ouvi a voz de um homem mais velho, provavelmente o dono do lugar.
— Ela é sua filha?
— Não, não. Ela mora aqui perto e trabalha conosco. E você, está procurando um serviço ou algo assim?
— Na verdade, estou pensando em começar um negócio.
— Negócios? Então você sabe ler, escrever e calcular?
— Argh!
Eu não tinha pensado nisso. Por um momento, fiquei paralisado. Então, a garota trouxe algo que parecia um livro de contabilidade.
— Como você espera ser um comerciante se não sabe ler ou escrever? É obrigatório saber isso para se registrar na guilda comercial, sabia?
— Ah… bom, eu consigo ler e escrever, mas na minha língua. Além disso, sei calcular.
— Certo, então me diga: há quatro sacos contendo doze linkers em cada um. Quantos linkers há no total?
Não fazia ideia do que era um “linker”, mas entendi o conceito. Respondi sem hesitar:
— Quarenta e oito.
A garota sorriu, impressionada.
— Uau! Você realmente sabe calcular! Qual é o seu nome, tio?
— Kenichi.
— Hmm, que nome estranho. Eu sou Azarea. Prazer em conhecê-lo.
Azarea anotou algo parecido com meu nome no livro de contabilidade, mas parecia que ela tinha escrito “lixo”. Essa garota, pelo visto, sabia ler e escrever.
No entanto, os caracteres que ela escreveu tinham algo de familiar, como se fossem uma mistura de letras romanas.
— Azarea, preciso de um favor…
— O quê?
— É simples. Pode me ensinar a ler e escrever?
— Hã?
Ela ficou um pouco confusa com meu pedido repentino, o que era compreensível. Ainda assim, aprender a ler e escrever parecia ser o caminho mais rápido para me estabelecer nesse mundo.
— É simples. Como agradecimento, eu te dou um doce exótico.
— Sério? Um doce?
Os olhos de Azarea brilharam como os de uma criança diante da promessa de algo açucarado.
— Sim, bem doce.
— Então, se eu estiver sem trabalho, posso ensinar.
— Ótimo! Então conto com você.
Azarea me guiou até o quarto no andar de cima. Era um cômodo simples, com tábuas no chão e apenas uma cama. Não havia forro no teto, deixando a estrutura superior exposta.
Apesar disso, o quarto parecia limpo e bem cuidado, o que me deixou aliviado. Finalmente, eu teria uma cama para dormir.
— Coloque os lençois neste cesto todos os dias. Se tiver mais alguma coisa para lavar, será cobrado à parte.
— Entendido. E, se estiver livre, me ensine um pouco sobre as letras. Vou ficar aqui por alguns dias.
— Combinado. Não esqueça do doce.
— Pode deixar.
Quando Azarea saiu, me joguei na cama. O toque dos lençois me fez perceber que eram de linho.
Esse mundo novo ainda era uma incógnita, e havia muitas coisas que eu precisava aprender para me adaptar. Mas, naquele momento, sentir o conforto de uma cama foi um alívio enorme.
Eu só pretendia deitar por alguns minutos, mas acabei adormecendo.
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